Aqui há uns anos (em 2006), no site da nossa escola essa lenda foi reproduzida da seguinte forma "Junto à fonte estava situada a cidade da Escória (cidade romana), estando para além da Igreja. A Igreja está construída em cima de alicerces da antiga cidade, por isso o chão é oco. Assim, com os tempos a cidade foi destruída e com os restos da cidade começou a ser erguida o que é agora Santa Vitória. "
Os meninos e as meninas que nessa altura frequentavam o 1º ciclo transmitiam, assim, aquilo que os seus pais ouviram aos seus avós e que estes já tinham escutado dos seus bisavós, e por aí adiante, pelos séculos fora.À perpetuação desta lenda pelos anos fora, não serão, decerto, alheios os trabalhos arqueológicos de Abel Viana, publicados na revista Arquivo de Beja. No volume XIII, editado em 1956 (págs 141 e 142), um artigo intitulado Sepultura Romana (?) da Igreja de Santa Vitória, dá-nos conta de "...uma caixa , feita de tijolo (...) a qual tem todo o aspecto de ser uma sepultura de época romana...". Sobre essa caixa havia uma laje, onde estava gravada a seguinte inscrição : "SEPUL/TURA/de/STª VI/CTORIA" :
Embora não tendo a certeza, Abel Viana assenta essa hipótese no facto de, como escreve no mesmo artigo, "...Santa Vitória(...) é abundante em vestígios da dominação romana...", ainda que muitos estivessem "... desbaratados e perdidos para a arqueologia...". Fala, nomeadamente, de uma grande área coberta de sinais de alicerces de casas e de vários objectos de cerâmica, nos terrenos junto à igreja e ao cemitério. Refere, ainda, numa necrópole com, pelo menos cem metros quadrados, "destroçada" por uma charrua e de muitos objectos encontrados aquando das obras de ampliação do cemitério.
Num outro artigo, Abel Viana fala das "villae" romanas e refere esses vestígios como fazendo parte de um desses "estabelecimentos agrícolas", que terão continuado mesmo depois da queda do Império Romano, tendo sido cristianizadas e passado "... ora por épocas de prosperidade e de grandeza, ora de miséria e de abandono, conforme os benefícios da paz e as vicissitudes da guerra, das fomes, terramotos e aterradoras pestes...". De acordo com este autor, "... foi a crescente actividade da reconquista cristã que lhes vibrou o golpe de misericórdia..." Arquivo de Beja, vol. XVI, 1959, págs 38 e 39.
Ou seja, aquilo que tem sido referido como uma "cidade romana", não passaria de uma grande propriedade agrícola, a exemplo de outras que existiam na nossa região como, por exemplo, a de Pisões.
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