domingo, 15 de maio de 2011

Um pouco de História : a "cidade romana" (1)

Desde criança que ouvi falar na cidade romana que existiu onde hoje é a nossa aldeia. Achados arqueológicos, túneis, tudo contribuía para alimentar essa lenda.

Aqui há uns anos (em 2006), no site da nossa escola essa lenda foi reproduzida da seguinte forma "Junto à fonte estava situada a cidade da Escória (cidade romana), estando para além da Igreja. A Igreja está construída em cima de alicerces da antiga cidade, por isso o chão é oco. Assim, com os tempos a cidade foi destruída e com os restos da cidade começou a ser erguida o que é agora Santa Vitória. "
Os meninos e as meninas que nessa altura frequentavam o 1º ciclo transmitiam, assim, aquilo que os seus pais ouviram aos seus avós e que estes já tinham escutado dos seus bisavós, e por aí adiante, pelos séculos fora.
À perpetuação desta lenda pelos anos fora, não serão, decerto, alheios os trabalhos arqueológicos de Abel Viana, publicados na revista Arquivo de Beja. No volume XIII, editado em 1956 (págs 141 e 142), um artigo intitulado Sepultura Romana (?) da Igreja de Santa Vitória, dá-nos conta de "...uma caixa , feita de tijolo (...) a qual tem todo o aspecto de ser uma sepultura de época romana...". Sobre essa caixa havia uma laje, onde estava gravada a seguinte inscrição : "SEPUL/TURA/de/STª VI/CTORIA" :
  
Embora não tendo a certeza, Abel Viana assenta essa hipótese no facto de, como escreve no mesmo artigo, "...Santa Vitória(...) é abundante em vestígios da dominação romana...", ainda que muitos estivessem "... desbaratados e perdidos para a arqueologia...". Fala, nomeadamente, de uma grande área coberta de sinais de alicerces de casas e de vários objectos de cerâmica, nos terrenos junto à igreja e ao cemitério. Refere, ainda, numa necrópole com, pelo menos cem metros quadrados, "destroçada" por uma charrua e de muitos objectos encontrados aquando das obras de ampliação do cemitério.
Num outro artigo, Abel Viana fala das "villae" romanas e refere esses vestígios como fazendo parte de um desses "estabelecimentos agrícolas", que terão continuado mesmo depois da queda do Império Romano, tendo sido cristianizadas e passado "... ora por épocas de prosperidade e de grandeza, ora de miséria e de abandono, conforme os benefícios da paz e as vicissitudes da guerra, das fomes, terramotos e aterradoras pestes...". De acordo com este autor, "... foi a crescente actividade da reconquista cristã que lhes vibrou o golpe de misericórdia..." Arquivo de Beja, vol. XVI, 1959, págs 38 e 39.
Ou seja, aquilo que tem sido referido como uma "cidade romana", não passaria de uma grande propriedade agrícola, a exemplo de outras que existiam na nossa região como, por exemplo, a de Pisões.  

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