terça-feira, 3 de maio de 2011

Um pouco de História (2)

Como já aqui referi, a nossa aldeia foi algumas vezes visitada pelo arqueólogo Abel Viana, cujas investigações publicou na revista Arquivo de Beja.
Alguns dos artigos publicados nessa revista referiam-se a cistas da Idade do Bronze (cerca do ano 1200 aC, ou seja, há mais ou menos 3200 anos). Cistas são sepulturas formadas por quatro lajes em pedra, cobertas por uma outra, também em pedra, esta maior e mais grossa e, por vezes, com imagens gravadas. As suas dimensões variavam entre 80/100 cm de comprimento, por 50/80 com de largura e 40/45 de profundidade. Essas dimensões justificam-se porque os corpos eram depositados em posições contraídas, dobrados e, às vezes, de lado, aquilo a que se chama de decubitus lateral.
Segundo Abel Viana, "Essas sepulturas são(...) muitos abundantes no sul do País, mas é precisamente no concelho de Beja, sua parte meridional(...) muito principalmente na zona ocidental (freguesias de Ervidel, Santa Vitória e Mombeja) que estas sepulturas abundam e que, por outro lado, espólios mais notáveis têm fornecido." (Arquivo de Beja, vol. XIII, 1956)
Por este motivo, Abel Viana várias vezes se deslocou a locais da freguesia, algumas vezes chamado para ver essas sepulturas, encontradas durante os trabalhos agrícolas. Assim, relata-nos ele : "Em 5 de Janeiro de 1943, por convite do Sr. Manuel Guerreiro Colaço de Brito, já falecido, visitei o Monte do Ulmo, em Santa Vitória(...) Fôra o caso que em 1941 havia aparecido um grupo de quatro cistas e assaltara-nos a esperança de chegarmos a tempo de aproveitar qualquer informação de valor."  (Arquivo de Beja, vol. IV, 1948). Não foi isso, todavia, que aconteceu, já que apenas lá existiam três lajes de cobertura, sendo todas as outras pedras aproveitadas "na construção de pocilgas."
Mais sorte teve Abel Viana, uns anos mais tarde. Como ele escreveu, "Por convite  do Escultor e meu amigo Sr. Álvaro-João de Brée, proprietário da Herdade da Corte d'Azinha, em Santa Vitória, fui ali em Dezembro de 1949 com encargo de evitar a destruição de umas sepulturas antigas, as quais, conforme aviso do rendeiro, tinham aparecido"  (Arquivo de Beja, vol. XI, 1954). Dois anos mais tarde, em Outubro de 1951, Abel Viana vai estudar as três cistas, cujas lajes "...que uma lavra mais funda tinha feito arrastar pelos ferros potentes das charruas modernas.". Deste modo, foi possível fotografar essas sepulturas e reproduzi-las no Arquivo de Beja :
Estas sepulturas eram cobertas por uma laje maior, algumas das quais com inscrições. Uma das lajes ( também conhecidas por estelas ) mais importantes é a que Abel Viana diz ter sido "achada no sítio da Pedreirinha, também em Santa Vitória. É uma grande lasca de grauvaque (rocha de origem sedimentar, formada por fragmentos de outras rochas) bem azul, com 0,97m de altura, 0,86m de largura e 0,12m de espessura máxima"  (Arquivo de Beja, vol. XIII, 1956). Nesta laje são bem visíveis duas espadas e um objecto que tem sido visto como um machado ou como um escudo :

Estela da Pedreirinha, in "Beja XX Séculos de História de uma Cidade I", de Casteleiro de Goes

1 comentário:

  1. É com verdadeiro agrado que estive a ler este artigo, no meu ponto de vista devemos procurar saber/conhecer a história e evolução que passamos na nossa região, é uma referência nos dias de hoje.
    Ass: Ana Colaço (neta do Sr. Manuel Guerreiro Colaço de Brito)

    ResponderEliminar