quinta-feira, 24 de março de 2011

A Casa do Povo

A Casa do Povo foi, durante muitos anos, o centro da aldeia, ainda que se situasse numa das suas extremidades. Era aí que quase tudo se passava : desde as consultas do médico aos bailes, desde a televisão ao cinema ambulante. Era aí que se liam o Diário do Alentejo e a Flama, mas onde também se equipavam os jogadores das equipas de futebol, à falta de melhor.
As casas do povo nasceram com a ditadura de Salazar mas, independentemente da sua conotação com o regime, cumpriram um importante papel sociocultural e, logo a pós o 25 de Abril, a nossa foi também o grande fórum cívico e político da aldeia, onde se discutia, muitas vezes acaloradamente e com a sala a abarrotar, as ideias e as propostas que iriam construir um futuro melhor.
A Casa do Povo faz parte de um "triângulo estratégico" formado ainda pela Escola e pelo Campo de Futebol, à entrada da aldeia, na direcção de Beja. Por isso, desde sempre a população se habituou a atravessar a localidade, para ir levar e buscar os filhos às aulas, ir aos jogos de futebol da FNAT/INATEL, ou ir à inúmeras actividades que tinham lugar na "sua" casa, a do povo.
Por exemplo, em 1966, a sala quase explodia de alegria, quando o Eusébio e companhia marcavam os golos no Mundial da Inglaterra; vibrava-se com a acção de grandes filmes aí exibidos, como Os Sete Magníficos ou A Queda do Império Romano; mas os corações também batiam mais forte, quando António Prieto cantava La Nobia, ou um beijo mais ousado aparecia no écran.
Era uma festa, quando aparecia a carrinha do cinema ambulante e nos entregavam os cartazes para distribuir por lojas e vendas; mais tarde, depois de instalado o equipamento, essa mesma carrinha percorria a aldeia a anunciar o filme da noite, que iria encher a sala.

 
Era também nessa sala que rapazes e raparigas davam os primeiros passos de dança, vigiados estrategicamente pelas mães delas, que não permitiam qualquer aproximação mais atrevida. Grandes bailes aí se realizavam, com acordeonista ou, mais tarde, com conjunto, só superados com os das festas do verão.
E havia ainda, no exterior, o tanque  e o pomar de laranjeiras, que embelezavam o espaço.
Hoje, a Casa do Povo deixou de ser o centro da aldeia (que, curiosamente, se situa... no centro): o médico já lá não vai, porque se construiu um posto de saúde novo; a Junta de Freguesia, o Centro de Cultura, a Biblioteca, o Parque Infantil e o Centro de Convívio são os novos espaços que atraem a população, de todas as idades, criando essa nova centralidade.
Mas, não obstante estas alterações e, também o facto de ter perdido uma das suas primeiras e principais funções, que era a previdência social, a nossa Casa do Povo mantém um lugar importante na vida da aldeia, onde se continuam a realizam variadas iniciativas de natureza sociocultural (em que se incluem ainda os bailes) e onde a população pode realizar eventos privados como festas de casamento, baptizados ou outros.


5 comentários:

  1. Pois era, a Casa do Povo era o centro do nosso mundo. Lembro-me em pleno Agosto, o pessoal se deslocar para a Casa do Povo para, à noite, ver o resumo da Volta a Portugal e os feitos do Agostinho, pois eram raras as televisões na aldeia. E depois o nosso cinema ambulante, em que após a exibição do filme, nós miúdos repetiamos os duelos de pistoleiros e as cenas de espadachim no Quintal da Casa de Povo. E depois lá vinha o senhor Charneira!

    João Rosa

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  2. É verdade, João, esquecia-me da Volta a Portugal, que começava sempre com aquela famosa música que nos fazia correr para a frente do televisor.

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  3. A Volta a Portugal, onde o meu tio Ilidio do Rosário tambem corria, nao tenho a certeza se chegou a vencer alguma. Ilidio do Rosário levou bem longe o nome da sua terra, Santa Vitória. A Junta de Freguesia prestou-lhe justa homenagem ao atribuir o seu nome a uma das suas ruas.
    Ana Maria Manguito

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  4. Olá Ana, estou a pensar dedicar um post ao grande ciclista (e seu tio) Ilídio do Rosário.

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  5. Olá, posso ajudar com fotografias e recortes de jornais que guardo religiosamente.

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